DURANTE A MADRUGADA



Eram três da manhã quando o telefone tocou. Sempre as tragédias acontecem durante a madrugada, por que nunca às quatro da tarde, quando estamos dentro de um entediante trabalho?

Avisaram-me que minha esposa havia sofrido um grave acidente de carro.

Eva me disse que havia viajado a trabalho, porém o acidente ocorrera em nossa cidade. Fui para o hospital.

Me identifiquei na recepção e me pediram para aguardar. Havia pessoas gemendo, vomitando, chorando, rindo, correndo. Pensei que o hospital pode ser uma metáfora da nossa sociedade, onde todos se apoiam em um deus sempre quando estão diante do desespero e do inevitável. Me chamaram.

- Sua esposa não resistiu – falou o médico.

- Escute, havia mais alguém com ela?

Me indicou o quarto onde o cara que estava com ela repousava. O provável amante da minha mulher. Havia sofrido apenas alguns arranhões. Era bonito o filha da da puta. O acordei.

- Ei – eu disse. - Prazer. Eu sou o marido da mulher que você matou. 

Ele se desculpou dizendo que foi um acidente e coisa e tal. Peguei um travesseiro e afundei na sua cara. Ele tentou resistir se debatendo por alguns segundos, como um animal desesperado durante o abate, mas apagou rápido.

Eram 4:30. Ainda um bom horário para acordar alguém com uma má notícia

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