FAXINEIRA FASCINANTE


Eu estava saindo da padaria com meus pãezinhos e Deus estava chegando.
- E aí, Deus? Como vão as coisas?
- Mais ou menos. Tive uma briga feia com a Lurdes.

Deus me falou que a Lurdes havia descoberto o seu caso com a moça que fazia a faxina na casa todas as sextas. Eu tive o prazer de conhecer a ilustre diarista. Era um espetáculo realmente. E parecia que Deus tinha algum tipo de poder, ou dom, sei lá, pois todas as mulheres se entregavam a ele ardentemente. O pessoal do bar o inveja por isso, mas já estavam acostumados. Então ele contou como Lurdes o encontrou amarrado na cama com a garota vestindo uma fantasia de empregada e rebolando suavemente sobre ele.

- E a Lurdes? – perguntei.
- Ah, mandei ela para os quinto dos infernos e fui embora de casa.
Ele deu uma gargalhada e comentou que estava morando em um apartamento a duas quadras dali.
- Vê se aparece um dia desses lá para bebermos algo.
Anotei o endereço e perguntei sobre a empregada.
- Ela está indo também nas segundas e terças agora. – comentou. – Morando sozinho a desordem é maior.
- Cara, você não existe. - falei.

ÓCIO

Já estava acostumado a ir trabalhar de ressaca, mas naquele dia ela foi mais forte do que minha força de vontade, e quando percebi esse detalhe resolvi desviar o caminho do trabalho e peguei um táxi até o centro da cidade. Sempre gostei de caminhar sozinho sob as árvores do centro invejando os aposentados jogando suas conversas fora e olhando maliciosamente as moças desfilarem pelas calçadas.
Por algum momento achei que estava um pouco melhor, mas quando baixei minha cabeça senti um suor frio, a nuca doendo, mas consegui segurar as pontas quando senti o gosto azedo subir. Sentei-me num banco. Não queria vomitar. Nunca gostei de vomitar. Basta concentração e tudo dá certo. Me concentrei

- Posso ler sua mão? – falou uma velha cigana que eu nem sei de onde surgiu.
- Pode. Mas não vou te pagar.
A cigana pegou minha mão e começou a alisar de uma forma meio erótica. Confesso que fiquei sem jeito e um pouco excitado. A ressaca costuma me deixar mais libidinosamente sensível. A ressaca é tão afrodisíaca quanto a embriaguez pode ser broxante. Mas esses pensamentos duraram uns 5 segundos.


- Então? – perguntei.
- Tudo bem com você, moço. Vejo um futuro promissor e muito sucesso.
- Oba. E tem mais alguma coisa?

A velha respondeu que seria preciso marcar uma consulta para uma análise mais aprofundada do meu futuro promissor. Eu disse que gostava de surpresas e ela começou a resmungar qualquer coisa fazendo minha cabeça doer e cuspiu na minha cara. Levantei-me do banco e apertei o pescoço dela e seu rosto começou a ficar muito vermelho. Vi as lágrimas escorrendo do canto de seus olhos. Mas não de dor. Eram apenas lágrimas de medo, pois não apertei tanto. Dei um sorriso e um beijo na boca da velha e soltei seu pescoço. Ela saiu correndo.

Estava cedo. Mas parecia ter passado uma eternidade. Decidi que precisava dormir. Fui até o cinema. Escolhi o pior filme com objetivo de não prender minha atenção. Talvez dez pessoas estivessem na sala. Sentei bem atrás, tirei os sapatos e dei um jeito de me deitar assim que apagaram as luzes e o projetor começou a funcionar. Sentia que melhorava e dormi.