FALTA DE OPÇÕES


- Por nada você não ficaria lá até essa hora.
- Muito menos aqui.

UMA TARDE NA PRAÇA


Eu estava lendo o jornal na praça. Gostava de ficar por ali. Observava os aposentados buscando velhas lembranças enquanto disputavam uma partida de damas. As garotas de sorrisos fáceis e suas saias. Também havia os que ali viviam, enganando a morte entre um gole e outro. Havia os loucos. Na praça todos os perfis de seres humanos se encontram.
E quando eu estava me retirando, um cara vinha correndo em minha direção e uma mulher logo atrás dele dizendo que ele era um ladrão que havia lhe roubado a bolsa. Ao passar por mim eu chutei suas pernas e o homem aterrizou.
- Segura ele – gritou a mulher.
Quando ela chegou, chutou a cara do ladrão arrancando dois dentes. O homem levantou-se e saiu correndo, deixando os dentes ali no chão.
- Muito obrigada, moço.
-Ele vinha na minha direção. Qualquer um faria o mesmo.
- Meu marido não faria. O que ele faz mesmo é beber. Cada dia em um bar. E acha que eu tenho que acompanhar. Leva bebida escondida até para dentro do cinema.
Identifiquei na hora um o perfil psicótico, algo meio histérico. Então acendeu um cigarro e me convidou para sentar um pouco no banco. Quando ela terminou de reclamar colocou a mão em minha perna e jogou fora o cigarro.
- Vamos ali no meu carro – falou tremendo.
Ela parecia ainda mais psicótica, me fazendo pensar que eu não sairia vivo. Mas saí. E quando terminamos, simplesmente parecia que outra mulher estava ali. Uma zenbudista de fala mansa. Tirou um frasco de comprimidos da bolsa e tomou uns quatro. Me deu uma nota de cem e abriu a porta para que eu descesse. Não falou nada.
- Posso ficar com teu telefone? – perguntei, enquanto ela fechava a porta na minha cara e arrancava.
Voltei para praça e fiquei olhando para os dentes, catalogando mentalmente todos os tipos que aparecem por ali.

TEMPERAMENTO IMPULSIVO COMPULSIVO


- Você gostaria de alguma coisa, baby?
Ela serviu o chá e o encarou
- Que você desse o fora agora.