Mel estava se deliciando com minha coleção de discos. Como sempre, ficava admirando um a um demoradamente. E enquanto ouvíamos The Doors ela perguntou qual música eu escolheria se fosse me matar.
- Mas o suicídio não é um improviso – ela falou tirando uma faca da bolsa e passou devagar entre os seios.
Ela aumentou o volume e tirou a blusa.
- E o assassinato? – perguntei.
Ela sentou-se no meu colo e colocou a faca em meu pescoço e me beijou.
- Também não. Eu te dou a faca. Você me mata – me deu a faca. - Tudo planejado, sem nada de improviso também – falou levantando-se e indo até o quarto.
- As pessoas não fazem nada de improviso. Somos todos uns previsíveis que caminham uns nos rastros dos outros e compram as mesmas roupas e mesmos carros e mesmos cachorros e reclamam sobre as mesmas coisas – falei e logo ouvi um tiro.
Corri para o quarto e quanto entrei Mel pulou em cima de mim segurando a arma e dando a sua gargalhada rouca que eu adorava.
- Isso foi um improviso – disse ala.
O disco havia parado de tocar. Trocamos por um de Jazz e nos deitamos rindo das previsibilidades alheias.