O DIA EM QUE O DIABO SOPROU NO MEU CANGOTE

- Leve isso para aquela senhora, por favor.
O garçom foi lá entregar o bilhete. Ficou gesticulando e apontando para mim. Eu sorri. Ela sorriu. Me aproximei.
- Tudo bem?
- Tudo. Criativo você.
- Tentei me esforçar. Você mora por aqui? - Perguntei.
- Moro aqui na rua de trás.

Eu já conhecia a dona. Ela era a viúva do velho Matias, o “Nariz”. Foi encontrado morto no quarto de um motel. Overdose de cocaína. O dinheiro ficou. E quem o guardava estava se embebedando comigo. Fomos para sua casa.
Enquanto ela tomava banho eu me servia com o Jack Daniel's do falecido. Depois de vinte minutos ela apareceu com uma espingarda nas mãos apontada para mim.

- Calma aí, baby. - Disse eu.

- Acha que eu não sei quem você é? Aquela puta que matou meu marido no motel é sua namoradinha.

Ela engatilhou a porra de cano duplo. Senti o diabo soprando no meu cangote. Terminei o meu Jack e fechei os olhos

PERSUASÃO

- Mas já vai?
- Preciso trabalhar.
- Trabalhar para outras pessoas ficarem ricas às tuas custas e te entregarem uma cesta de Natal no final do ano? Deita aí.
Ela deitou.

BAITA PROFISSIONAL

Fui me encontrar com a tal mulher. A pessoa que organizou nosso encontro me explicou tudo e disse que eu deveria ser discreto, pois as chances de estarmos sendo vigiados eram grandes. Cheguei ao local. Ela estava de óculos escuros sentada na última mesa do bar. Visivelmente ansiosa. Incrível como as pessoas conseguem chamar atenção justamente quando precisam fazer o contrário.

- Com licença.

Ela apenas fez um sinal positivo com a cabeça. Era interessante a moça. Eu ficaria com ela sem dúvida. Parecia meio louca. Já estava alta. Seu cabelo era bem escuro, não muito longo, meio desalinhado propositalmente. Como se recém tivesse acordado. Mas trato é trato e eu não poderia colocar tudo a perder. Tinha que deixar de lado qualquer sentimento que pudesse estragar o combinado.

- Trouxe o dinheiro? – Ela perguntou.

- Está no carro. Vamos lá.

Abri o bagageiro. A vi sorrir pela primeira vez e decidi que precisava acabar logo com aquilo. Eu estava me apaixonando no trabalho novamente. Quando ela se curvou para examinar as malas atirei bem na nuca. Joguei-a para dentro e fui pegar uma cerveja para ir tomando no caminho de volta.

PODERÍAMOS SER COMO BONNIE & CLYDE

Entrei no carro e apareceu essa mulher com uma beleza desconcertante. Puxou a arma e anunciou o assalto. Eu acabara de me apaixonar. Levaria um tiro dela e morreria com seus suculentos lábios de Scarlett Johansson estampados em minha retina.

- Quer uma carona? – perguntei. 

Ela engatilhou. Olhei no fundo daqueles olhos gigantes e decidi que faria o que ela quisesse. Desde que eu fosse levado de refém. Ou poderíamos ser como Bonnie & Clyde.

- Eu te levo. Entra aí.

Ela tentou não demonstrar, mas ficou sem jeito. Era uma novata. Enfim entrou e vi seu vestido subir em câmera lenta ao sentar no banco do carona.

- Dirija até a Constantino Alberto Ribeiro e não me olha?

Eu não era nenhum especialista em foras da lei, mas percebi que ela agia por conta própria. Só não sabia a razão. Talvez quando a gente se casasse ela me contasse. Um dia.
Como assim não olhar, pensei. Eu queria fazer sexo com ela com a arma apontada para minha cabeça se fosse necessário. Precisava revelar meu amor por ela.

- Eu te amo.

Silêncio.

- Dirija isso.

Sim, ela estava ficando balançada. Não entendo os assaltantes, mas entendo as mulheres. E ela não fugiria de mim.

- Tu conhece Bonnie & Clyde?