GRANDE OCASIÃO

Há muito tempo ela não fazia aquilo. Até comprou um vestido especialmente para a ocasião. Mas estava nervosa e insegura com sua aparência. Perguntava-se se ele não iria brochar ao ver sua pele envelhecida e mal tratada pelo tempo. Tomou mais uma taça de vinho - também comprado especialmente para ocasião - e foi em frente ao espelho, ansiosa. Olhou-se. Ajeitou os seios que iam quase até a barriga. Imaginou quem teria desejo de acariciá-los. Caminhou até a janela. Ele estava atrasado. Ela estava com medo. Lembrou-se dos tempos em que era elegante e “exalava sexo”, como costumavam dizer os garotos da rua. E algumas garotas também. Ela era o terror. Esboçou um sorriso e sentiu-se um pouco mais relaxada. Um pouco mais bêbada.

Nada dele aparecer. Pensou em ligar, mas sentiu que poderia deixar transparecer sua insegurança. Depois daquela idade não cairia bem. Abriu outra garrafa. Esta não era para a ocasião. Talvez para uma próxima. Mas que próxima? Se nem a primeira houve, pensou ela, deitada no sofá e debochando de si mesma.
Ligou para ele algumas vezes. Nada.
Levantou-se cambaleando e foi para sua cama que havia sido preparada para a ocasião e dormiu.