SATISFAÇÃO GARANTIDA

Eu não queria ir, mas fui praticamente forçado pelo Miranda, pois todos estariam lá e seria Mmuito divertido. Fui. É engraçado ver as pessoas alimentarem uma expectativa para as coisas. E mais engraçado é ver as frustrações escorrendo por não terem alcançado tal expectativa. Na verdade quando colocamos algo em nossa mente, as imagens projetadas são como um comercial de TV. Nos vemos dentro de um contexto completamente satisfatório e sempre em terceira pessoa, o que aumenta nosso encantamento, pois percebemos perfeitamente o que está em nossa volta e temos a noção de estar dentro do ambiente que desejamos.

É a expectativa que todos criam, por exemplo, quando vão passar aquele maravilhoso final de semana na casa da praia com os amigos, mas quando chegam lá não enxergam mais o que projetaram. No momento em que estão inseridos na realidade chegam a conclusão de que nada mudou, portanto, não há motivo para euforia, mas sempre forçam a barra.

- Chegamos! – gritou Miranda, todo empolgado. – Vamos correr para pegar os quartos antes que o resto do pessoal chegue! hahaha


E saiu correndo todo sorridente e saltitante pelo quintal da casa. Percebi que Val sentia uma ponta de vergonha por ser casada com ele. Levamos as coisas para dentro e logo chegaram as outras pessoas. Amigos e amigos dos amigos. E logo chegou a chuva. E logo éramos cerca de quinze pessoas dentro de uma casa que suportava no máximo oito. Arriscamos uma volta, mas as ruas estavam bastante alagadas para os carros. Voltamos e ficamos sentados olhando a chuva. Aquela sensação hipnótica de ficar olhando para as gotas nas poças começou a se transformar em um tédio absurdo. Resolvi que teria que me arrastar pelo dilúvio para comprar algo para beber, e quando estava saindo ouvi a voz de uma das amigas dos amigos.


- Não acredito que ele vai sair com toda essa chuva para comprar bebida. Além de ficarmos presos com esse tempo, vamos ficar presos com um bêbado.

- Com um bêbado e uma puta. - completei. - Combinação perfeita.

Ela voou sobre mim com as unhas na minha cara. Foi preciso dois para arrancar ela de cima. Ela chorava como criança. Levantei-me e sai para fazer as compras e no caminho lembrei do dinheiro. Voltei. Minhas coisas estavam esparramadas no barro sob a chuva. Minha carteira também foi para o barro. Peguei e saí. Comprei uma dúzia de cervejas. Voltei e fiquei bebendo e olhando para toda aquela bagunça. Afinal, a expectativa que eu projetei na minha cabeça antes de partirmos foi exatamente essa. Satisfação garantida.