MUDANÇA DE PLANO

Foi um daqueles momentos em que decidimos mudar de vida. Com uma convicção sempre espantosa. Enquanto eu ouvia música, ficava ali fantasiando em como seria minha suposta futura vida. Um trabalho de verdade, vizinhança tomando banho de mangueira enquanto lavam seus carros aos domingos depois de levarem seus cãezinhos para cagar nas calçadas.

Servi uma bela dose de conhaque para brindar o momento. Estiquei-me na cama olhando para o teto imaginando o tipo perfeito de esposa que eu teria e qual cachorro poderíamos comprar para enfeitar o quintal da casa.
Mas antes que pudesse lembrar de algum pedigree, as batidas na porta me despertaram.
Pus minha calça e fui atender. Olhei antes. Era a mulher do Pablo. Era uma linda senhora que andava frequentemente bêbada se exibindo pelas ruas. Assim que abri a porta ela entrou chorando. Estava fedendo a cerveja.

- Meu marido me expulsou. – falava soluçando.
Percebi uma mancha roxa no olho esquerdo.
- Ele te bateu?
- Sim. Falou que eu fico me exibindo para os colegas dele em todo lugar que nós vamos.
- Você não fica? – perguntei, olhando para seu decote.
Ela soluçou e fungou o nariz ranhento.
- Tome. – ofereci uma dose. – Vai fazer bem.

Servi outra para mim e fui até a janela. Observei por alguns minutos as pessoas para lá e para cá, arrastando com dedicação exaustiva seus desejos frustrados. Dei um leve sorriso. Fechei a janela e fui para cama onde a minha hóspede roncava.