O DESPACHO


Quando resolvi pegar a cachaça que estava junto de uma galinha morta com pipocas em uma esquina meu amigo quase me bateu.

- Tu é louco. Isso é um despacho. Coisa de batuque.

Coloquei um punhado de pipoca na boca e ofereci um pouco a ele, que deu um tapa na minha mão.

- Tu vai se arrepender de comer isso. Essas coisas são enfeitiçadas.

Ele até se despediu de mim ali mesmo e foi embora sozinho. Eu passei no mercado para comprar limões para tomar com minha cachaça amaldiçoada em casa.

Quando cheguei, tomei um banho, preparei um drink e liguei para casa de meu amigo. Sua mulher atendeu chorando.  Disse que ele acabara de chegar e teve um infarto fulminante. Ela estava esperando a ambulância.

- Estou indo para aí – falei.

Liguei para minha macumbeira.

- Então? – perguntou a velha com uma voz rouca de quem fuma cinco carteiras de cigarro por dia.

- Sua velha safada. Deu mesmo certo o trabalho que você preparou – agradeci. – Ah, e não precisava gastar com uma cachaça tão cara, ainda bem que eu peguei ela.

- Você tomou?  - perguntou assustada.

Quando fui responder senti minha garganta fechando e não consegui falar. Meus olhos pareciam que iam saltar da cara. Tentei discar para a emergência, mas todo meu corpo estava adormecido.


Desabei e fiquei congelado olhando para o teto.

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