VIAGEM AO MÉXICO


Eu não pensava em trabalhar porque Eloísa me sustentava. Ela tinha quarenta anos a mais do que eu. Estava acabada. Sempre viveu na noite se drogando e bebendo. Mas ela gostava mesmo era da minha companhia. Eu não precisava trepar com ela. Eu tinha carro. Moto. E cartão de crédito sem limites. Vivia bem. Ela sabia também que eu tinha namoradas, como Leila, mas eu evitava leva-las para casa por respeito. Eloísa era uma boa senhora. Quando ela me disse que estava com aquela doença, me partiu o coração de verdade. Digo de verdade, pois ninguém acreditava que eu realmente gostasse de Eloísa. Claro, o fato de eu ser rico e não precisar trabalhar e ter que encarar pessoas que eu não gostasse apenas para ganhar um salário de merda no final do mês era o principal motivo de eu estar com ela, mas com o tempo adquiri um apego. Confesso que uma vez tentamos tomar banho juntos. Mas não rolou. Ela tinha vergonha de seu corpo.

Mas então por causa da doença ela me chamou para uma conversa e disse que não queria sofrer e me pediu para eu matá-la quando ela não conseguisse mais levantar da cama.

- Não fale besteira, Elo.

- Eu sempre vivi a minha vida intensamente. Não me arrependo de nada. E você acha que agora vou ficar entrevada numa cama me cagando e me mijando até a morte?

Na verdade ela tinha razão. Então concordei com a eutanásia. E semanas depois ela já havia piorado muito, não comia, mal falava, e finalmente combinamos que faríamos.

Uma noite eu sentei na cama ao seu lado. Sorrimos sem falar nada. Quando fui colocar a agulha no seu braço ela meu deu um tapa.

- Seu filho da puta. Você iria mesmo me matar, monte de bosta? Nem ao menos insistiu para eu desistir. Pensou que ficaria com meu dinheiro e iria para o México com aquela vadia da Leila como sempre quis? Pois está enganado.

A mulher levantou-se e tirou uma arma debaixo do travesseiro e apontou para mim. Comecei a chorar de verdade e disse para ela me perdoar. Ela atirou no chão e começou a tirar a roupa. Então se deitou na cama e me chamou, com a arma ainda apontada. Quando ela chegou ao orgasmo, soltou um último suspiro rouco e ficou imóvel. Verifiquei o pulso. Morta. Vesti minha roupa e chamei a ambulância. Eu estava mesmo em choque, juro. Foi sempre uma boa senhora. Mas agora eu iria poder ir para o México com Leila.

Nenhum comentário: