MORREU SABENDO


No hospital, minutos antes de minha companheira morrer ela revelou que sabia que eu tinha uma amante e um filho com ela, e que minhas viagens a trabalho eram uma farsa. Eu disse que sentia muito e consegui fazer com que escorresse uma lágrima pelo meu rosto . Desde pequeno eu sabia imitar perfeitamente um choro para evitar as surras violentas da minha mãe. Ela passou a mão no meu rosto e disse que me perdoava. Eu disse obrigado e a beijei. Escorreu uma lágrima também do olho dela. Verdadeira. Quando ela finalmente fechou os olhos (na verdade eu tive que fechá-los, pois ficaram arregalados depois de mortos), liguei para Lila e disse que não poderia voltar para casa naquele final de semana pois apareceram imprevistos no trabalho - um dia teria que mudar essas desculpas.

- Você não está me traindo por aí, né, seu safado? – sussurou no telefone.

- Na verdade você era a amante, e minha verdadeira mulher acabou de falecer. Estou olhando pra ela agorinha.

- Ai, credo. Como você é bobo! Bem, mas traz alguma coisa pro Paulinho, senão ele abre o berreiro. Ah, e pra mim também. Te amo.

Desliguei e chamei a enfermeira.

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