ESTOU ENLOUQUECENDO, NÃO ESTOU?


Lívia tinha medo até mesmo de sair para o quintal de sua casa. Havia tentado vários tratamentos, mas nada adiantava. Ela congelava e entrava em surto ao sair na rua. Na verdade aquilo até me parecia interessante. Pois não era preciso inventar desculpas para não ir a festas, encontros, ver pessoas, e, principalmente, não era preciso ir ao trabalho. E ninguém a cobraria por isso. Além do mais, recebia um pequeno benefício devido sua doença. Eu fazia visitas toda semana e depois de bebermos e treparmos eu até a convidava para ir tomar um ar na rua, mas não adiantava. Ela começava a chorar só de pensar. Eu a entendia. Eu não tinha agorafobia, mas também sentia vontade de chorar ao enfrentar a realidade cotidiana. Quem não tem, não é mesmo? Claro que existem aqueles que pensam ser importantes em algo e se contentam com os farelos dos outros e ainda se divertem com isso.

Num domingo fui ver Lívia, e ela estava sentada em frente de casa.
- Lívia? O que houve? – perguntei contente por ela parecer ter melhorado.
- Quem é Lívia? – me respondeu um pouco assustada. – E quem é você?
Ela se levantou e correu para dentro. Fui atrás. Então ela apareceu com uma faca e acertou de raspão o meu pescoço. Recuei e ela avançou novamente. Estava enlouquecida. Quando então caímos no chão, tirei sua faca e ela me encarou com aquele seu velho olhar de medo.
- Tudo bem – eu disse. – Vamos para dentro.
- Estou enlouquecendo, não estou? – me perguntou chorando.
- Claro que não. Vamos deitar um pouco.
Depois de um cigarro ela se acalmou. Desci para a sala e liguei para a clínica, conforme recomendações da psiquiatra, caso ele agisse daquela forma. Já era esperado. Dentro de algumas horas Lívia estava sendo levada em uma camisa de força para sua internação. Liguei para a sua irmã, Leila.
- Oi. Eles já a levaram - disse eu.
Quando Leila apareceu, ela foi direto abrir o cofre da família. Após ela tirar o dinheiro e as joias eu dei um tiro na sua testa e liguei para a psiquiatra de Lívia.
- Está feito – falei
- Ok. Estou indo.
Servi um drink e fiquei esperando.

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