FORA DO JOGO
Eu costumava tomar café todos os dias na lancheria em frente à minha casa antes do trabalho. Era mais uma maneira de ficar adiando a ida diária ao serviço e ver as mesmas pessoas e conversar sobre os mesmos assuntos, assim como fazemos como quando não queremos conversar e nos obrigam a isso. Mas como era sexta troquei o café por uma dose de conhaque.
Lila, a atendente, sorriu maliciosamente e me entregou o copo.
- Que foi? – perguntei.
- Tá começando cedo hoje.
Apenas devolvi o sorriso e fiquei olhando para rua. Todos corriam. Expressões sérias de ansiedade constante por estarem dentro de um jogo que sabiam não haver vencedores.
A Lila estava sorrindo para o celular. Fiquei a encarando e imaginando ela sem roupa.
- Que foi? – agora ela perguntou.
- Tô imaginando você sem roupa.
- Não vai trabalhar não?
Como era de se imaginar, depois da primeira dose sempre enxergo a realidade e tomo as melhores decisões.
- Hoje não. Quer ir lá em casa depois? Comprei uns discos ontem e não pude ouvi-los ainda.
Lila adorava meus discos.
Ela aceitou. Acabei minha segunda dose e fui embora. Passei no mercado para comprar cervejas e fui para casa esperar a Lila para ficarmos um tempo fora do jogo.
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Um comentário:
Doces e necessários momentos fora do jogo. Os que abdicam disso rumam para a insanidade.
Abraço
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