ESTADO DE CHOQUE

Domingo. Ele estava de ressaca depois de passar uma noite um tanto pesada. Sua ex ligou.

- Minha mãe morreu. – Disse a voz angustiada.
- Nossa.
- Preciso que você venha.

Podia ser um truque. Ela já havia feito parecido, no dia em que afirmou ter sido estuprada por três homens e jogada nua na porta de uma igreja.

- Não posso.
- Ela morreu, caralho!
- Eu entendi, mas não vou trazê-la de volta... caralho.
- Hã?
- Olha, eu ainda não dormi. Também estou quase morrendo aqui. E nem por isso liguei para ninguém. Então meus pêsames. Tchau e descanse em paz. Desligou e abriu uma cerveja. Ela ligou novamente. Parecia um bixo do outro lado da linha. Estava realmente apavorada. Ele foi.

Quando chegou era aquela choradeira clássica. Óculos escuros. Mulheres com vestidos pretos, alguns bem justos, por sinal. Depoimentos sempre positivos sobre o falecido. E ainda não era o velório. Ficou pensando como seria quando fosse ele o morto. Ela apareceu, o abraçou e deu uma mordida em sua orelha.

- Vamos subir?

Ele percebeu os olhares oblíquos dos parentes da moça, mas decidiu acompanhá-la. Talvez ela apenas estivesse em algum tipo de estado de choque, pensou. Ela mostrou o frasco vazio de veneno e começou a arrancar as roupas dele, que também entrou em estado de choque.

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